Joao Gilberto(Tom Jobim/Vinicius) - Chega de Saudade
Vai minha tristeza,
e diz a ela que sem ela não pode ser.
Diz-lhe, numa prece
Que ela regresse, porque eu não posso mais sofrer.
Chega de saudade, a realidade é que
sem ela não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai.
Mas se ela voltar,
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei
Na sua boca,
dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim.
Não quero mais esse negócio de você longe de mim...
Essa é a versão de João Gilberto do disco Chega de Saudade que comentei no último post.
Bem, eu divido essa música em 3 partes: introdução, modo menor e modo maior(ou bossa nova).
Introdução.
No livro Chega de Saudade, de Ruy Castro, há uma passagem falando que Tom se inspirou num chorinho que sua empregada costumava assobiar quando foi começar a compor Chega de Saudade. Eu vejo uma influência exagerdamente forte do Choro em todo música, principalmente na introdução. Escute.
A introdução, poeticamente, está representando a fase da melancolia, da tristeza musical que antecede a Bossa Nova.
Modo menor.
A letra começa de um modo triste e sem esperanças, acompanhada por uma melodia em tom menor (ré menor, originalmente) e embalada pela introdução tão triste quanto.
Perceba isso na primeira estrofe quando Vinícius escreveu que: vai lá minha infinita tristeza e diz a ela que eu não posso nada ser sem ela... diz a ela, religiosamente, que ela volte urgentemente porque eu não posso mais sofrer... não aguento mais saudade, pois sem ela não há paz, beleza, só há a melancolia que não sai de mim.
E ainda toda essa tristeza representa a fase antecessora da Bossa.
"Vai minha tristeza,
e diz a ela que sem ela não pode ser.
Diz-lhe, numa prece
Que ela regresse, porque eu não posso mais sofrer.
Chega de saudade, a realidade é que
sem ela não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai."
Modo maior.
Então, a música dá uma virada magnífica. De um tom menor passa para um tom maior (ré menor para ré maior), acompanhada agora por uma letra repleta de alegria e esperança (Vale ressaltar que, musicalmente, tons menores trazem uma música triste e tons maiores uma música alegre). É aqui que começa a Bossa nova! É nessa troca de astral musical que quebra-se com os antigos padrões musicais para se mostrar uma nova fase linda da nossa música. A bossa nova se inicia aos 55 segundos dessa música!
Vinícius escreve agora que: aaah, se ela voltar que coisa linda seria. Quantos peixes existem no mar? Dane-se quantos. Eu darei mais beijinhos em você do que essa tal quantidade. Teu lugar é nos meus braços, regado a milhões de abraços e beijos. Tudo isso pra nunca mais você fugir de mim, nunca mais viver longe de mim.
"Mas se ela voltar,
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei
Na sua boca,
dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim.
Não quero mais esse negócio de você longe de mim"...
Perceba que nessa última parte - na parte bossa nova - aparecem as identidades do nosso poetinha e do nosso maestro soberano.
90% da obra de Tom tem a mata atlântica no meio, tem a natureza, segundo o próprio. Perceba, então, o mar e os peixinhos na letra.
Vinícius adorava usar de diminutivos em suas músicas, poemas, sonetos, modos de se referir a alguém. Perceba os "peixinhos" e os "beijinhos".
Outro detalhe interessante. A música começa mostrando a distância entre as duas pessoas e exatamente no final da música essa distância é anulada com um: "Não quero mais esse negócio de você longe de mim"
É impressionante como após 50 anos da composição dessa obra ela permanece surpreendente e intocável.
Um espetáculo de Vinícius e Tom.
Possíveis possibilidades!
-
É por isso que a gente deve sempre seguir. Que nada nos detenha. Nem mesmo
o amor!
Há 12 anos
Isso aqui tá cada vez melhor hein?!
ResponderExcluirBacana a maneira como vc coloca as situações em q as canções foram feitas.
a gente se vê no próximo post
bços
Olá Othon,
ResponderExcluirBoa proposta a sua de mostrar o poema do autor e comentar para que mais comentários sejam dados.Gostei mesmo e vejo seu trabalho de pesquisa que é o que deveria ser feito por todo blogueiro consciente que sepreze.Parabéns, meu caro.Vida longa ao 'ame-o-poema' !!Abraços.
e agora, nosso grande Othon nos apresenta um ícone da bossa-nova, um "divisor de águas", a canção que deu a cara, os ares, a identidade, da bossa nova.
ResponderExcluirE logo, os compositores da mesma foram ngm mais ngm menos que dois papas da bossa nova, vinicius e tom, e o interprete nosso querido joãozinho, outro papa da bossa.
To esperando desafinado, do nosso ilustre tom jobim!
Aquele abraço
Lembro bem daquele dia em que conversamos sobre essa música.
ResponderExcluirPerfeita, hein???
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Esqueci de comentar anteriormente. Mesmo eu já tendo lhe dito algo pessoalmente, o título do do blog tem um toque primoroso de GENIALIDADE. Parabéns!
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