segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

morena dos olhos d'água, chico buarque.

Bem, abro o blog com a interpretação de uma canção de Chico, chamada Morena dos Olhos d'água, em homenagem a Clarice Carvalho.
Todas as postagens seguirão esse padrão: música para ouvir; letra da música; minha interpretação.
No final, discorde, concorde, opine, comente.


 Chico Buarque - Morena dos Olhos D'água



Morena, dos olhos d'água,
Tira os seus olhos do mar.
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar.

Descansa em meu pobre peito
Que jamais enfrenta o mar,
Mas que tem abraço estreito, morena,
Com jeito de lhe agradar.
Vem ouvir lindas histórias
Que por seu amor sonhei.
Vem saber quantas vitórias, morena,
Por mares que só eu sei.

Morena, dos olhos d'água,
Tira os seus olhos do mar.
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar.

O seu homem foi-se embora,
Prometendo voltar já.
Mas as ondas não tem hora, morena,
De partir ou de voltar.
Passa a vela e vai-se embora
Passa o tempo e vai também.
Mas meu canto ainda lhe implora, morena,
Agora, morena, vem.

Morena, dos olhos d'água,
Tira os seus olhos do mar.
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar.
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar.


A musa da música é a Eleonora Mendes Caldeira, uma psicanalista de olhos exageradamente verdes, cabelos negros, pele clara pela qual Chico foi muito apaixonado, segundo amigos. Mesmo sendo da "high society", Eleonora sempre foi considerada uma pessoa de uma simplicidade ímpar, muito afável e de uma bagagem cultural pesada, diferente das socialites de Sampa. Ela é a autora do livro "Cultura e Elegância".

Chico não chegou a assumir publicamente que escreveu a canção para ela, mas, timidamente, soltou num dvd (o qual não me recordo com certeza agora) que houve, sim, a existência da musa, mas pediu para que o diretor não colocasse esse trecho da entrevista no dvd, porque sabia que hoje ela é uma senhora e, acima de tudo, muito bem casada!

Chico compôs toda a música com apenas 22 anos, em 1966. A melodia é bem simples e muito tranquilizadora (sem trema agora, né?). É uma melodia bem mar. Vai e vem; sobe e desce. Certa vez, Dorival Caymmi durante uma entrevista foi perguntado sobre Chico e, na sua resposta, fez questão de frizar de que sua (Chico) melhor música é Morena dos olhos d'água.

Vamos à análise.

A letra mostra uma separação porém, claro, nos permite várias interpretações.
Eu acredito em 3 personagens na música: a morena, o homem da morena e o próprio Chico.

A morena.

A morena é revelada logo no começo como uma mulher que sofre, já que na primeira estrofe da letra encontra-se "Vem ver que a vida ainda vale o sorriso que eu tenho pra te dar".
Além disso ela é esperançosa e espera pelo seu homem olhando pro mar, vindo daí os seus olhos de água: olhos verdes da cor da água do mar ou olhos cheio de água de choro, tristeza.
A esperança da morena é o mar. É do mar que vai aparecer o seu homem, é pelo mar que seu homem vai voltar.
E aí, então, aparece a 2ª personagem que é o seu homem.

O homem.

Podemos interpretar o homem da morena como sendo um pescador, um marinheiro, um navegante, um terrestre que se sente em casa no oceano. Vida de marinheiro é vida desgarrada. É aquela coisa de "vou pro mar e volto já".
Na quarta estrofe, Chico, como compositor e personagem, mostra que o homem da morena está a mercê das ondas, falando que o homem dela foi embora, prometendo voltar já, sendo que as ondas não têm hora de partir ou de voltar.

Chico.

A 3ª personagem - o próprio Chico - aparece na segunda e quarta estrofe.
Chico, que não é bobo nem nada, se mostra, nas duas estrofes, "cantando" a morena, se aproveitando da ausência do homem dela.
Perceba na 2ª estrofe:

"Descansa em meu pobre peito
Que jamais enfrenta o mar,
Mas que tem abraço estreito, morena,
Com jeito de te agradar."


Aí, o Chico-personagem deita o morena em seu próprio peito prometendo nunca trocá-la pelo mar, como o seu homem fez.

"Vem ouvir lindas histórias
Que por teu amor sonhei.
Vem saber quantas vitórias, morena,
Por mares que só eu sei."


Aí parece como uma paquera de pescador. A paquera nas duas primeiras linhas; e o pescador na duas últimas - Vem saber das minhas vitórias (histórias) pelos mares que somente eu sei. As famosas "Histórias de Pescador".

Agora na 4ª estrofe (minha preferida):

"O teu homem foi-se embora,
Prometendo voltar já.
Mas as ondas não tem hora, morena,
De partir ou de voltar."


Como já comentei, aí, o Chico-personagem incita a morena a esquecer do seu homem já que não se pode prever quando ele vai voltar - e se vai voltar.

"Passa a vela e vai-se embora
Passa o tempo e vai também.
Mas meu canto ainda te implora, morena,
Agora, morena, vem."


Esse trecho é maravilhoso.
Podemos ver por dois ângulos:

1) Passou o tempo e passou a vela (o barco) na qual estava o homem da morena. E já que ele passou "Agora, morena, vem!!!" hahaha.

2) Entre velas e tempo que passaram pelo mar, valeu por esperar porque "Agora, morena, (finalmente ele) vem"
Claro que o primeiro é mais coerente.

Já que olhos são uma constante nas peças de Chico e a Sua obra é como uma teia-de-aranha (as músicas têm ligações) podemos fazer uma ligação com os olhos de "Carolina"... "Carolina, nos seus olhos fundos guarda tanta dor, a dor de todo esse mundo..."

E a música termina com o refrão com Chico repetindo o último trecho "Vem ver que a vida ainda vale / O sorriso que eu tenho / Pra te dar.", para provocar mais ainda a "sua" morena.

3 comentários:

  1. Muito boa a análise. Estava procurando uma música com a temática de uma bacarola e encontrei MORENA DOS OLHOS D'ÁGUA, com uma análise que me ajudou bastante.

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  2. Muito bom mesmo, concordo com essa conexão com Carolina.

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