segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

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Carta do Tom

Rua Nascimento Silva, 107
Eu saio correndo do pivete
Tentando alcançar o elevador

Minha janela não passa de um quadrado
A gente vê Sergio Dourado
Onde antes se via o Redentor

É, meu amigo
Só resta uma certeza
É preciso acabar com a natureza
É melhor lotear o nosso amor


Eis a resposta que Tom e Chico escreveram em 77 para a Carta ao Tom 74, de Vinícius e Toquinho.
A melodia permanece a mesma.
A referência à violência já emergente na cidade também, como se vê logo no primeiro verso quando Tom corre de um moleque de rua em direção ao elevador de seu prédio.
O concreto ainda protagoniza outro verso na resposta de Tom:

Minha janela não passa de um quadrado
A gente só vê Sergio Dourado
Onde antes se via o Redentor


Na análise da Carta ao Tom, fiz um comentário sobre o engenheiro-carrasco Sérgio Dourado. Além dele tapar o Cristo Redentor e o Céu, agora, ele, por conseguinte, tornou a janela do apartamento do Tom um mero quadrado.

Chico gostava de poetisar as janelas em algumas de suas músicas (Januária, por exemplo). Era um lugar de observação, de ver o que acontece da parede pra lá.
Eis, talvez, onde foi a participação de Francisco na escrita.

Tom era famoso, no âmbito da composição, por ser uma pessoa exageradamente perfeccionista, insatisfeito, porém muito transigente.

Roberto Menescal comenta no documentário Coisa Mais Linda que sempre que compunha alguma melodia nova ia logo mostrar pro Tom.
"Tom, escuta."
E tocava a melodia acompanhada sempre de um "larárá" na voz.
Daí Tom nem sempre gostava dos acordes, da sequência dos acordes ou do sei lá o que.
Porém Ele nunca falava:
"Roberto, isso tá horrível. Roberto, não gostei desse último acorde"
Não conseguia falar. Ele simplesmente ia lá no seu piano, tocava de um jeito diferente e falava:
"Opa, errei. Errei, não foi? Ok, vamos denovo."
E ficava errando incansavelmente, propositalmente.
Até que, depois de algumas erradas, Menescal comentava:
"Tom, erra denovo, por favor."
Aí Tom errava... e Roberto dizia:
"Rapaz, gostei desse seu acorde 'errado'. Vou trocar o meu por ele."

E assim Tom acabava sempre metendo sua colher nas composições alheias com esse jeitão dele.

Falando nisso, perceba que no vídeo acima Tom troca o "Sérgio Dourado" por "cimento armado", que até em divisão poética são iguais, com 5 sílabas.

"Sér / gio / Dou / ra / do"

"Ci / men / to ar / ma / do"

Não sei se por mania de mudança, perfeição ou se houve algum problema com o engenheiro.

A resposta termina com a indignação Deles regada de um bom sarcasmo:

"É, meu amigo
Só resta uma certeza
É preciso acabar com a natureza
É melhor lotear o nosso amor"


Precisa falar mais alguma coisa?

Um espetáculo de Tom, Chico e Toquinho.

4 comentários:

  1. Caro Othon Buarque Jobim de Moraes,
    a gente simplesmente não tem palavras para comentar aqui. Que tarefa dificil, sô!
    De qquer forma me sinto um privilegiado em ter expostas as maravilhas q esses homens incriveis criaram e tão bem analisadas.
    Eu quero colocar teu blog nos meus favoritos, mas, ñ consigo, quem fazia isso aqui pra mim era uma maiga q foi embora, mas, tou tentando!!!
    bços

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  2. Consegui, foi molinho tás lá nos meus favoritos, agora vc vai uma enxurrada de leitores migrarem pra cá...Rs
    Foi reflexivo (o níver)!

    bços

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  3. Lembro qd usei esta música na minha redação para o vestibular. Nada como usufruir dos nossos eternos gênios.

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  4. Obrigado por texto tão revelador! Que maravilha é Vinicius e Tom. É, porque os dois são um! E é, porque estão vivos, são eternos! Um poeta maior complementado pelo maior dos maestros da Bossa Nova e MPB. Não tive a honra de assisti-los ao vivo, mas hoje mesmo irei ao show do seu neto Daniel Jobim e Kell Smith, no "Tributo a Tom e Elis". A obra deles é eterna!

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