(Para o amigo Felipe)
Carta ao Tom 74
Rua Nascimento Silva, 107
Você ensinando pra Elizeth
As canções de 'Canção do Amor Demais'
Lembra que tempo feliz
Ah! que saudade
Ipanema era só felicidade
Era como se o amor
Doesse em paz
Nossa famosa garota nem sabia
A que ponto a cidade turvaria
Esse rio de amor que se perdeu
Mesmo a tristeza da gente era mais bela
E além disso se via da janela
Um cantinho do céu e Redentor
É meu amigo, só resta uma certeza
É preciso acabar com essa tristeza
É preciso inventar de novo o amor
Eis a famosa cartinha do poetinha musicada por Toquinho escrita pro Tom. Ela tem um quê de saudosismo fortíssimo e é cheia de esperança.
A primeira coisa interessante a se notar é a introdução da música. Não é novidade pra nenhum admirador da Bossa, não? A introdução dela é praticamente idêntica à introdução de Corcovado, de Tom Jobim, claro, pra dar um tom de Tom na música. A única diferença é o final que as duas melodias tomam: a de Corcovado termina em tom menor e do Toquinho cai em tom maior no final, deixando-a mais sorridente.
O saudosismo da música aparece no primeiro verso quando Vinícius fala da rua carioca em que Jobim morou durante bom tempo e que foi palco de criação de várias obras dele (Corcovado, por exemplo) e também um "berço" alternativo da Bossa.
E foi no apartamento da Rua Nascimento e Silva, nº 107, onde Tom mostrou pra Elizeth Cardoso a canção Chega de Saudade, analisada anteriormente, que mais tarde seria a faixa destaque de seu disco "Canção do Amor Demais". Aliás, vale lembrar que esse disco foi o primeiro rascunho da Bossa Nova, já que contou com o violão de João Gilberto e com a própria Chega de Saudade.
E a exaltação de um passado não muito distante (uns 20 anos atrás) continua com Vinícius escrevendo que, Lembra, Tonzinho, que tempo feliz? Que saudade daquela Ipanema tranquila, inspiradora por demais.
É óbvia a referência aos tempos atuais de violência na Cidade Maravilhosa, contrastando com os de antigamente.
Naquele tempo o amor quando doía, doía em paz.
Como falar em Ipanema e não recordar da Garota que vem e que passa, com um doce balanço a caminho do mar?
Ela aparece logo na próxima estrofe:
"Nossa famosa garota nem sabia
A que ponto a cidade turvaria
Esse rio de amor que se perdeu"
Tom foi um grande amante da natureza e de toda a sua(natureza) poesia. Ele via poesia em tudo. De uma fonte de água na terra jorrando a um vôo de um urubu.
Ele, junto com Vininha, não imaginava a que ponta a cidade turvaria e que todo aquele Rio (de Janeiro) de amor se perderia em meio a tanto concreto. Concreto esse que é o protagonista do verso
"Mesmo a tristeza da gente era mais bela
E além disso se via da janela
Um cantinho do céu e Redentor"
Vinícius escreveu isso por cusa da volta frustrada de Tom de Nova Iorque, quando Ele se deparou com os vários prédios que a construtora Sérgio Dourado havia construído perto do seu, tapando a vista que ele tinha pro Cristo Redentor e até mesmo pro Céu, da varanda de seu apartamento.
E a música termina com uma frase belíssima do poetinha:
"É preciso inventar denovo o amor."
Espetacular.
É preciso inventar denovo toda a poesia arrodiava os cariocas da década de 50 e 60.
É preciso inventar denovo o amor tão esquecido nos tempos de verticalização da Cidade Maravilhosa.
Não termina aqui, não. Tom, Chico e Toquinho fizeram a "Carta DO Tom", que é uma resposta linda à "Carta AO Tom".
Deixo pra próxima postagem.
Um espetáculo de Toco e Vinícius.
Possíveis possibilidades!
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É por isso que a gente deve sempre seguir. Que nada nos detenha. Nem mesmo
o amor!
Há 12 anos
"Mesmo a tristeza da gente era mais bela"
ResponderExcluirSó essa frase já valia o ingresso, né? mas, os caras não paravam por ai e: inventavam do novo o amor e re-inventavam e iam inventando...
As vezes fico me perguntando q época foi essa né cara? qta. qualidade!!!
E esse blog é um resgate dessa qualidade q pasme, até eu tinha esquecido...
Valeu de novo!
hugs
É meu amigo, só resta uma certeza
ResponderExcluiré preciso acabar, com a natureza
é melhor lotear, o nosso amor.